Reescrevendo Cartas

Assim que se virou, sua boca foi ao chão. Zayn estava em pé, distante da garota uns 2 metros e pisava no cigarro que antes habitava entre seus dedos e terminava em sua boca maravilhosa. E que boca. E que dedos. Geovana não sabia se chorava, gritava, sorria, ou se fingia de morta. Optou por dar um sorriso sem graça e tentou falar algo em inglês. A garota era muito boa na língua, então sabia que ele a entenderia sem problemas, mas não achou que sua voz fosse sair tão fraca.

- Oh, I’m sorry that’s ok. No problem.. Zayn! – A garota praticamente sussurrou e estava com vontade de se arrastar no chão até chegar no ídolo e beijar-lhe os pés. E olha que se houvesse algo no mundo que Geovana tinha nojo, era pé.

[ n/a: Imagine que todos os diálogos entre a garota e os meninos/seguranças e famosos, sejam em inglês. ]

O garoto então deu alguns passos e perguntou se poderia sentar-se na espreguiçadeira ao lado de onde a garota estava. E ela balançou a cabeça freneticamente confirmando. Então seus olhos marejaram e ela decidiu por fim, conversar com o ídolo que até então estava quieto e observando o céu estrelado de São Paulo.

- Zayn, sou directioner! – Assim, na lata. Ela quis se matar por dentro. Onde diabos estava todo o auto controle que ela fingia ter no dia a dia? Todas as chances dele conversar normalmente com ela haviam ido por água abaixo, não?

- E você quer uma foto, certo?- Zayn perguntou olhando de canto de olho a menina, mas voltando sua atenção para o céu.

- Não! – Geovana respondeu e intrigou Zayn. Como ela poderia não querer um foto? Todos queriam.- Na verdade, não agora. Eu gostaria de um abraço, apenas.

Zayn sorriu e sentou-se na espreguiçadeira. Olhou a fã e pensou “ Paul não pode saber que encontrei uma fã, ele provavelmente, não nos deixaria ficar sozinhos por um segundo sequer ” e no mesmo momento pensou também “ Ela é muito doce, seria ótimo uma pessoa para conversar. ” Não percebeu quando tempo havia passado observando a garota, mas esta já se encontrava sentada de frente pra ele.  Como um impulso, ele a abraçou e puxou-a para si. Os dois ficaram abraçados por um longo tempo, sentindo o calor dos braços um do outro em contraste com a noite que ficava fria a cada momento. Geovana não podia estar mais feliz. Voltaram as posições normais e continuaram a conversar.

- Então, fã-que-não-quer-foto, qual o seu nome? – Zayn perguntou fazendo Geovana gargalhar.

- Geovana, Sunshine da mamãe. Geovana Lima.- Sorriu para o ídolo que havia deixado o seu perfume na roupa dela.- Como você soube que estava falando do cigarro? – Completou.

- Eu desconfiei. Você tossiu assim que o acendi e as palavras são bem próximas no português e inglês. Qual o seu problema com o cigarro?

- Hm, sou alérgica. Tenho um problema com coisas que soltam fumaça e qualquer tipo de droga. – Boa Geovana, burra. Tinha ganhado a atenção do ídolo e estava a jogando fora. Mais uma chance no bueiro. Será que a queda seria muito demorada daqui de cima até a calçada? Mas ela TINHA que alfinetar o ídolo por causa das histórias com as drogas. Zayn sorriu e a olhou por um tempo.

- Ah é? E porque todo esse rancor?

- Você não gostaria de saber. – Respondeu com o olhar sofrido. Zayn, soube naquela hora, que havia sido algo grave e gostaria de saber o que. Então fez um sinal com a cabeça para que ela continuasse. A menina começou a contar, então, a história do irmão que conhecia há menos de um ano e que enfrentava a batalha contra as drogas. Zayn a ouvia atentamente e podia jurar que sentia a dor da menina nas palavras e nas lágrimas que insistiam em escorrer pelo rosto dela. Ele tinha certeza que não queria causar esse sofrimento para ninguém. Não comentou o assunto, só ficou em silêncio e esperou que a menina falasse algo mais. Não falou.

O tempo foi passando e a noite ficou fria, era quase meia noite. A menina disse que iria para o quarto descansar, mas na verdade, ela precisava ficar sozinha. Não era justo chorar na frente do ídolo e em um dia tão feliz. Despediu-se de Zayn dizendo que gostaria de tirar a foto mas estava com o rosto vermelho. Ele sorriu e disse que esperaria a garota pela manhã no restaurante para tirar a foto. Ela sorriu agradecida e se dirigiu ao elevador para chegar até seu andar e, consequentemente, seu quarto.

Zayn estava cansado, afinal, as viagens cansam. Acendeu, inconscientemente, um cigarro e quando ia dar a primeira tragada sentiu nojo de si mesmo. Como ele poderia fumar depois de ouvir tudo o que Geovana havia falado? Ele sabia que ela havia falado de drogas mas o cigarro era uma também, não era? Decidiu jogar o cigarro, o maço e o isqueiro no lixo. Não suportava a ideia de ver sua família sofrendo se um dia acontecesse com ele o mesmo que com o irmão de Geovana. Talvez fosse o empurrão que ele precisava, talvez fosse hora de mudar. Suspirou e se dirigiu ao seu quarto sabendo que pela manhã enfrentaria a dura realidade de um viciado tentando se curar. Mas ele prometera a si mesmo tentar.

Geovana não sabia se chorava, gritava, pulava na cama, batia a cabeça na parede ou corria pelo quarto no hotel. Mas sabia que precisava falar com alguém. Resolveu deixar a história com o irmão de lado e ligar para suas amigas. Primeiro uma e depois a outra, e olha que engraçado, nenhuma atendia as ligações. Geovana bufou, entrando no whatsapp e gravando um áudio extenso, provavelmente, o áudio do ano e enviando no grupo que tinha com as amigas. Elas ouviriam depois. Onde elas estavam afinal?